sábado, 28 de janeiro de 2017

Palavras a ermo: Adeus, 2016



         Vestido em névoa, o ano de 2016 se foi. Em seu lugar, surgiu um novo: 2017; chegando em meio a um vazio, trazendo consigo uma brisa leve de esperança. Mesmo já em 2017, tornou-se difícil encarar 2016, ano que se passou como um furacão: revelando o que se mantinha escondido, destruindo, soterrando,  abrindo caminho para a reconstrução e revelando a solidez de alguns sentimentos e relações.
         Por diversas vezes, as metáforas e os rodeios são a minha melhor forma para expressar sentimentos. Esta é, talvez, a terceira vez que tento transpor em palavras uma retrospectiva do que se passou nesta etapa. Sendo esse texto uma tradição pessoal e uma forma de desanuviar e processar tudo que me passou, estou eu, encarando.

Entreguei-me ao choro.
         Minhas primeiras lembranças vem de um amor complicado. Não daqueles não correspondidos, que fazemos de tudo para esquecer - quem dera fosse, talvez eu passasse mais tranquilamente meus dias... -, mas sim um amor intenso, porém cheio de impedimentos e feridas. Cheio de altos e baixos, entreguei-me ao choro e em respeito a mim mesma, decidi abrir meu coração a um outro alguém e guardar o que eu antes sentia com todo amor e carinho pelos bons tempos, transformando-o em domável, dócil e eterno.

Novas histórias, velhas histórias e o luto.
         São tantas as idas e vindas na vida. Em nenhum outro ano a música "Encontros e Despedidas" (Milton Santos) se fez tão presente: Amizades que agora moram distantes (uma de minhas melhores amigas), que se afastaram, que afloraram (um grande destaque para as pessoas lindas do Zinescritos e a Kinho), que jamais poderão se formar (Rafael e Márcia, pessoas que conheci pouco, mas que se foram e deixaram a sensação de falta, de oportunidade perdida) e que se reaproximaram; as mortes de um dos meu grande companheirinho spok e de um grande mestre e meu entusiasta, Túlio Murici; e tornei-me espectadora e transeunte pelas vidas alheias, deixando pedaços, mas quase nunca permanência.

Pôr do sol
         Em um texto meu (Anoitecer;), explicitei um pouco minha relação com o surgimento da noite. Ao deixar o sol se pôr e as luzes diminuírem, encaramos nossos medos. Após alguns suspiros e o relaxamento, a penumbra os revela por inteiros e nos lembra que graças à lua e às estrelas, ainda há luzes e precisamos desse momento para, ao menos, começarmos a entendê-los, domá-los e conviver com eles. A intenção? Seguir em paz.
          Juntei toda a minha coragem e decidi trabalhar em meus problemas. Aprendi muito sobre meus transtornos de depressão e ansiedade - tratá-los em psicoterapia me deu suporte para admitir que algo estava acontecendo e permitiu esse ano turbulento, porém cheio de aprendizado e atitude com relação à mim mesma.
         Em 2016, especialmente, vivi altos e baixos intensos, indo da alegria imensa trazida pelos bons momentos para as fossas infindas. Desta forma, acabei me aproximando da concepção do Projeto Ponto e Vírgula*, "ponto e vírgula é usando quando um autor poderia ter escolhido terminar a sua frase, mas escolheu continuá-la. O autor é você, e a frase é a sua vida.". Nessa brincadeira toda, decidi me entregar à escrita como um de meus refúgios (inclusive me surpreendi ao conseguir publicar meu conto esse ano através da Andross Editora, posto que minha autoestima estava extremamente baixa e não me surpreendi por não achar e-mail de resposta do organizador Alfer, que mais tarde me contatou com a grande notícia de que meu conto foi aprovado); aumentei meus esforços no Pole Dancing, descarregando a mente em momentos gostosos; arranjei um companheiro incrível e meu atual namorado, Marcelo Bruno, que tem me ajudado a manter os pés no chão e a consciência de que não posso me deixar abater por completo; me agarrei à Família como meu maior refúgio; e resolvi descansar a mente das demandas da faculdade trancando meu curso, encarando meus medos relacionados ao futuro e o vazio momentâneo em fazer nada por se sentir sem objetivos.

Fênix
         A virada de ano sempre parece promissora, né?
         Minha crença está em que os anos só trazem mudanças quando estamos dispostos a mudar. Me dispus, após anos escondendo de mim mesma tanta coisa, a fazer uma faxina em mim mesma. Um de meus primeiros passos aconteceu no ano que passou. Fui ao pó, desfiz-me por completo, deixei uma bagunça e comecei a arrumar. 2017 chega com bastante coisa já encaminhada. Já se foram 28 dias e tudo que vem daqui a 31 de dezembro ainda está sendo escrito.
         Fecho esse texto, deixando as cinzas para trás e levantando voo, com toda a consciência de que voltarei a me incendiar e me desfazer.


*Projeto Ponto e Vírgula ou Project Semicolon é um movimento que se espalhou pelo mundo, com a intenção de conscientizar as pessoas acerca do suicídio. É também um movimento de suporte.