Livro: Sementes no Gelo

        "O homem estremeceu. Virou-se repentinamente, ainda deitado, deixando apenas os olhos espiarem o quarto pela fresta que arranjou no pesado cobertor. O som da bolinha de gude era assustador porque não deveria existir brinquedo algum ali. Não deveria existir menino tagarela nenhum em seu quarto. Não tinha filho que pudesse chamá-lo de papai. Tinha agora, ali, diante de seu olho amedrontado, uma espécie de espectro que andava, falava e saltitava amarelinha. Um fantasma que o chamava de papai."


       Esse é um trecho de um livro maravilhoso que li durante esse tempo sumida, intitulado Sementes no Gelo, escrito por André Vianco (@andrevianco ).
       Crianças fantasmas começam a atacar. Mas não a qualquer um. A quem merecia. Degolador, estupradores, exploradora de crianças e outros mais. Ao que tudo indicava, eram boazinhas. Pelo menos enquanto alguém não os irritasse.
       Tânio é um detetive que se vê diante de um caso aparentemente fácil de resolver e que lhe ajudaria a pagar algumas das suas contas do mês. Sua amiga, a qual há muito tempo não via, Lizete, estava sendo atormentada por uma voz infantil que a chamava de mamãe. O problema é que não tinha filhos e sabia que não estava ficando louca. Ele foi sua única esperança.
       Ele acha que é tudo armação de crianças traiçoeiras com desejo de perturbar até descobrir que Rogério, ex-marido dela, também é atormentado pela mesma voz. Até descobrir que a suposta criança, também era um fantasma. Até descobrir que haviam ligações muito maiores do que podia imaginar entre as histórias. Ligações essas que remotam a sua própia história.
       Emocionante demais. Se não me engano, ou interpretei mal, Vianco ainda aproveita a história para criticar um problema social grave: a exploração do trabalho de menores em detrimento de pessoas de má indole. E também, meio que lança uma pergunta: "Será que manter embriões não utilizados congelados é certo?", ou: "Para que mantê-los ali, quando sabe-se que serão descartados ou nunca utilizados?". Não tenho certeza quanto a se essas são idéias que ele realmente quis passar, mas foi o que entendi. Simplismente achei perfeito. Indico para quem gosta de mistério, aventura e coisas sobrenaturais consistentes, ou melhor, que não sejam "sem pé nem cabeça".

Imagens : no google.
Texto: Stephanie S.