Desta vez, não foi fácil. Oito
meses se passaram, não é mesmo? Oito meses. Oito.
Porque tanta ênfase? Bem, é algo
impressionante para mim. Quando pensei sobre isso hoje, me dei conta que, num
geral, oito meses é muita coisa. A minha sensação é de que o ano novo foi
ontem, se eu for pensar nele somente.
Notei há algum tempo que minha
noção de tempo anda muito ruim. Meus dias parecem não ter fim e ao mesmo tempo,
sinto como se não tivesse tempo para nada. Se eu deito por dois minutos, horas
se passam e eu sequer sei do que estava pensando.
Desculpem a mudança de assunto,
mas deve ser bem perceptível que esse texto não tem e muito provavelmente não se
seguirá de uma forma poética como os outros. Gosto muito de escrever de uma
forma ritmada e que eu sinta que é gostoso de ler, mas hoje não. Hoje estou
meio como a Imp, de “A Menina Submersa” – Se normalmente eu não me importo
muito sobre como os leitores irão receber o que escrevo e se vão entender,
neste momento, eu absolutamente não me importo. Hoje, neste texto, abro todo o
meu coração, sem medo.
Retornando ao assunto, muito me
impressiona, de verdade, que se tenham oito meses e eu não tenha parado em
momento algum para escrever esse texto. Nos textos anteriores eu acredito que
comentei sobre ter se tornado uma tradição pessoal (não fui nem vou
verificar...) e por todas as vezes que pensei em fazê-lo ao longo desses oito meses,
ou eu me sentia sem tempo ou bloqueada para escrever.
Talvez pareça simples a atividade
de escrever. Sempre me sinto impressionada com meus colegas e/ou amigos escritores
que fazem atividades de escrita constantemente e quando se sentem mal, às vezes
imensamente mal, é na escrita que encontram um conforto. Comigo quase nunca é
assim. Preciso estar minimamente bem para escrever, porque se estiver muito
mal, me sentirei bloqueada e absolutamente não conseguirei escrever, por mais
que tente.
Bloqueada. Percebe que falei
disso em dois assuntos diferentes que se relacionam? Pois é. Eu estive muito
mal.
Talvez, falar de 2017 envolva
falar de 2018. Talvez as coisas fiquem confusas. Talvez as memórias se
misturem. Talvez eu desista desse texto antes mesmo de chegar ao propósito:
Falar de 2017. Muitos “talvez”, talvez você fique cansada (o) de ler esse texto
e vá embora também, mas tudo bem, aqui é um desabafo e, desculpa a sinceridade,
mas não me importa quantos quererão ler. Talvez (sim, mais um), me importarei
com alguém que leia esse texto e se lerá
tudo, mas não me importo num geral.
Cheguemos ao ponto. Dois mil e
dezessete foi um ano extremamente diferenciado na minha vida. Foi o ano que decidi
por um fim e por um novo começo cheio de provações, em nome dos meus sonhos.
Inclusive, há alguns dias, me surpreendi por uma frase: “Não desista, afinal, é
o seu sonho, não é mesmo?”. Pus um fim na minha ideia de seguir alguns
conselhos e desistir de Engenharia Química por enquanto.
Disseram-me, lá em 2016, algo
como: “Eu sei, é sua paixão, é o que você sente que ama, mas não pensa que
seria bom se afastar um pouco, se cuidar, descobri outras coisas, fazer outro
curso e só daqui a um tempo, quando você estiver melhor, você retorna e faz o
que você ama”. Há bastante sensatez nessas palavras e, lá em 2016, quando
tranquei meu semestre para cuidar dos meus transtornos psíquicos, a minha ideia
era justamente procurar segui-lo - e procurei. Voltei à mente de criança,
voltei aos meus desejos e pensei: “O que eu quero ser? O que quero fazer? Qual
o meu propósito?”. Tive novamente os mesmos desejos: Posso tentar ser física,
astrofísica, bióloga, filosofa, matemática... Procurei por todos esses cursos.
Na verdade, procurei por ainda mais. Tantas pessoas falam da minha escrita,
sobre como eu devia seguir uma carreira relacionada e pensei: “E se eu fizer
literatura, letras, jornalismo ou algo similar?” – Desculpe-me, mundo, mas não,
essa não é minha ossada. Tenho preguiça só de pensar. “Meu deus! Uma escritora
que não estuda!!!!” – Não é bem assim, estudo só o que acaba me gerando
interesse para algo que eu queira escrever e também aceito a ajuda e
ensinamentos de leitores beta e dos meus colegas de
escrita/editores/organizadores dos livros que participei, mas para todo o
resto, eu simplesmente não me importo e me cansa – sequer me vejo nas carreiras
que estes cursos proporcionam.
Consegue tirar algo da volta que
dei no último parágrafo? Eu consigo: Por mais que as pessoas me vejam nas artes
diversas, eu não me vejo inserida nelas como deveria e sequer tenho vontade. Às
vezes penso em me esforçar para essas atividades pelos elogios que recebo das
pessoas, mas quando tudo anda mal, essas coisas até me servem de passatempo ou
desabafo, mas não as sinto como minha vida. Elas não fazem meus olhos brilharem
e meu coração explodir de encantos como entrar no barco do Greenpeace, ler
sobre a história e o trabalho de Vera Rubin (Astrofísica), estudar a capacidade
de degradação de alguns microrganismos, compreender as viagens quânticas de
algumas ideias de Einstein, transformar matéria, melhorar o mundo através de
projetos... Pesquisa, criação, desenvolvimento. Caramba! Essas três palavras
fazem de mim quem eu sou. Dentro e fora da faculdade, ou seja, literal e
metaforicamente.
Talvez por isso, seja tão
importante e sofrida a faculdade para mim. Não deveria ser assim e eu
absolutamente não serei estoica quanto a isso, muito menos me formarei expondo
minha história como se fosse normal passar por tanta coisa e eu estivesse
completamente certa em meu caminho.
Vou contar uma verdade: Não sei
nem o que estou fazendo. Uma outra pessoa quase me bateu quando se deu conta
disso (ou pareceu que a vontade dela era me dar um tapa na cara). Eu estou, de
alguma forma, seguindo meu coração. Ao mesmo tempo, estou “dando murro em ponta
de faca”, como já me disseram. Não façam isso em casa, crianças. É um caminho
doloroso demais e talvez, há quatro anos, eu devesse ter tomado outro rumo.
Invés disso, cá estou, cheia de pesos nas costas, em pleno 2018, remexendo em
2016 para explicar 2017, que é o protagonista desse texto, mas ainda nem chegou
na história de fato.
“Pombas, Stephanie! Começar a
falar de 2017, onde fica?” – Por favor, não se estressem, estamos trabalhando
para oferecer um melhor serviço. Ou não, afinal, sequer vou revisar esse texto.
Se eu revisar, certamente desistirei dele, ou cortarei muita coisa. Lembram que
me referi à Imp? Pois, quem leu, vai entender bem que isto aqui é um texto com
o mesmo tipo de escrita: incômodo, informal, confuso, cheio de rodeios e
voltado à mim, a escritora.
Agora, após três parágrafos de
adendos, volto ao ponto: o fim que pus em 2017. Como eu disse há quatro parágrafos
atrás, sou feita de pesquisa, criação e desenvolvimento. Com tudo que disse nos
últimos parágrafos, quis dizer que sou muito eclética, mas existem ramos que se
unem e são muito importantes para mim. Todos aqueles cursos que realmente
pensei em fazer, em absolutamente todos, senti que não iria me satisfazer. Não
consigo me ver sem fazer mil contas e interpretar dados, não me vejo estudando
os milhares de ramos da física (prefiro mesmo a aplicação prática nos fenômenos
que estudo e a existência ínfima de algumas coisas que odeio neste ramo), não
me vejo só fazendo contas e algebrismos, não me vejo apenas discutindo ideias e
repassando em sala de aula sobre os pensadores do passado. Claro, estou sendo
bem superficial nessas definições e acreditem: Eu SEI muito bem que não é só
isso e já pesquisei a fundo e busquei profissionais para saber dessas áreas.
Após trancar o meu curso, passei meus dias inerte e triste. Me senti vazia e
sem propósito. A ideia de fazer esses cursos não me motivava, o pole dance e o
tecido acrobático não me acalmavam, a escrita não me ajudava, NADA. Pus um fim.
Descobri que na minha atual faculdade tinha meu curso e as matérias que faziam
parte pareciam muito que me levariam aonde eu queria. Pus um fim na ideia de
seguir o conselho de mudar. Segui meu coração.
Mas, sabe? Seguir seu próprio
coração dói. Alguns te chamam de louca, outros reafirmam que acham que você
está se enganando sobre o caminho que deve seguir, outros não te acham capaz de
almejar o que deseja. “Fodam-se os outros!” Fácil dizer, difícil mesmo é
escutar essas opiniões de quem mais te importa e isso sempre ser reafirmado.
Para mim, é difícil e doloroso, por mais
que eu saiba que a intenção de alguns é me proteger e me guiar para um caminho
melhor. Para estes, estou sendo teimosa e alguns, inclusive, se preocupam com
minha saúde mental.
Decidi seguir meu coração e
enfrentar isso. Foi MUITO difícil.
Novo espaço de estudo, novas
pessoas, maturidades muito diferentes da minha, sensação de escola, rotina
densa, necessidade de paciência. E os distúrbios, acabaram? Não. Me abri para o
mundo quanto aos meus transtornos. Foi difícil e inicialmente, rodeado de
desculpas e desculpas – parei com isso após um professor me chamar para uma
conversa e me confrontar sobre isso: “Você não precisa viver de desculpas. Você
não precisa se explicar para todo mundo. Tome cuidado para não se fazer de
vítima”. Esse é um resumo de toda uma grande conversa ao fim do ano, em que eu
chorei para caramba. Não era a primeira vez que eu escutava algo do tipo, não
foi a última e talvez seja a mais tocante e significante, por conta da forma
que ele me passou isso (que, por sinal, é inenarrável, me desculpem).
Tive que me adaptar a me sentir
em meio a crianças em alguns momentos e uma criança burra em meio a gigantes do
conhecimento em outros. Desenvolvi fobia social ao longo da minha trajetória e
isso veio com força a partir de 2016. Nunca fui de ligar para as opiniões
alheias e em 2017 é que comecei a perceber que minha autoestima estava destroçada
e que comecei a ter uma facilidade imensa em me retrair e me sentir inferior
nas coisas que amo. O porquê disso? Assunto para uma outra hora, ou talvez hora
nenhuma, mas não sinto que seja tópico para esse texto aqui.
Dois mil e dezessete foi difícil,
mas certamente um ano em que suspirei de alívio diversas vezes. Dois mil e
dezesseis foi muito pior. MUITO pior. Se em 2017 eu chorei diversas vezes e
tive que colocar minha ansiedade e a depressão no colo e acalentá-los,
transformá-los, ao menos não havia mais os meus terríveis ataques de pânico e
já não chorava todos os dias na ida à faculdade. O que era diário, aos poucos
se tornou só algo possível e um pouco frequente.
Em 2017 ganhei alguns presentes
da vida. Se 2016 me presenteou com momentos completamente paradoxais (mortes,
introspecção, isolamento, decepção amorosa, um novo e maravilhoso amor,
fortalecimento de amizades que muito amo, reencontros, desistência, resiliência...),
em 2017 me surpreendi com o alento vindo de onde eu menos esperava. Em 2017
pessoas incríveis colocaram suas marcas em minha vida – e algumas delas estiveram
ou estão só de passagem, mas suas marcas são fortes.
Uma pausa no meu texto para algo
que acabei de notar: Alguém a quem dei e dou muita importância, é passageiro na
minha vida. Passei 2017 inteiro negando isso a mim mesma. Passei todo um ano
achando que era apenas impressão, achando que daria certo tê-la por perto. Me
enganei. Ela não pode estar como eu gostaria e nem é obrigação dela. Cada dia
que passa, me sinto mais certa disso e me dói.
Ainda sobre pessoas, os presentes
desse ano que já passou ainda estão sendo abertos, aqui em 2018. Ainda estou
descobrindo o que foi 2017 para mim e não posso deixar nenhum desses parágrafos
para lá, pois são, para mim, muito importantes.
Muitas pessoas foram incríveis
para mim em 2017 e ficou nítido o quanto eu não preciso de ninguém, mas preciso
de todo mundo. Com o estopim dos meus transtornos ocorrido em 2016, em 2017 aprendi
um pouco mais sobre cuidar de mim mesma, sobre não me achar uma super-heroína
capaz de aguentar tudo só, sobre deixar meu orgulho e pedir ajuda, sobre
permitir que as pessoas entrem, às suas formas, na minha vida (mas cuidando de
como elas fazem isso).
Esse foi um ano muito denso. Nesse ano também lancei meu
primeiro livro: “Fragmentos de Vida – Contos Diversos”, que peguei doze contos
que criei, repaginei alguns mais velhos, e fiz a minha própria coletânea. Cheia
de histórias fictícias e um ou outro fragmento de realidade, pus nele bastante
do que penso e aprendi da vida. Realizei tudo isso, todo esse projeto. Graças à
minha família de escrita (Zinescritos) e principalmente à Sandro G. Moura, meu
grandiosíssimo amigo e entusiasta. Sem ele, certamente não teria saído. Também
no ramo da escrita, ao ajudar a editora em qual publiquei, fui convidada a
participar de um livro, para o qual eu fiz um conto bem despretensioso, mas que
agora em 2018, foi indicado como um dos cinco melhores do livro. Além desse
conto, senti que cresci um pouco nas poesias, graças a um amigo e mestre
Marcelo Aceti. Através de seu incentivo, peguei a ideia de um poema e
transformei em outros dois poemas que acho incríveis. Também no mesmo assunto,
ainda publiquei em um livro que é a continuação de um projeto que achei
excelente e nele há diversos autores que admiro muito. 2017 foi um ano
produtivo na minha vida de escritora, mas fiz tudo isso graças aos diversos
empurrõezinhos que pessoas muito especiais me deram. Infelizmente, a partir do
momento em que precisei tocar isso sozinha, deixei para lá. O final de 2017 foi
muito difícil nesse quesito. Meu bloqueio criativo foi forte e me derrubou.
Minha autoestima como escritora sofreu um grande baque e até hoje, em pleno
2018, oito meses de 2018, quase nove, ainda estou tentando, a passos de
tartaruga, mudar isso.
Acredito que quanto à escrita e à
faculdade, eu consegui pôr tudo para fora. É bom dizer que nas questões
familiares, foi um ano que me decepcionei fortemente com pessoas que amo, por
começar a duvidar do caráter delas e amei fortemente e ainda mais algumas
outras porque sei de suas importâncias para mim e o quanto me querem bem – me esforcei,
portanto, para me reaproximar da minha família mais próxima e até de alguns
mais distantes. Ás vezes, eu até quero me aproximar de algumas pessoas, mas,
sinceramente, não sei como.
Quanto a amizades, os meus
permaneceram. Meu coração chega a doer de felicidade ao olhar fotos e
recordações envolvendo as minhas antigas e novas amizades. Em 2017, inclusive,
me aproximei muito das amizades que fiz nas aulas de danças aéreas e passei a
admirar mais e mais a minha polemãe, Erika Thompson – Aliás, a cada dia que
passa, acho essa mulher mais incrível e uma forte inspiração. Foi graças a
essas amizades e à inspiração e ensinamentos de Erika, num tempo que passei a
praticamente morar no Studio, como diziam as pessoas, que cresci muito enquanto
pole dancer e criei confiança para deixar minha criatividade fluir também nessa
atividade.
Caramba! Já foram cinco páginas
de Word... E ainda tem coisa.
Eu falei dos meus transtornos mas
não falei sobre algo importante: eu já fazia e ainda faço psicoterapia. É
imensamente importante nesse processo. 2017 também foi um ano de aprendizado
nesse quesito. Me tornei praticamente amiga do meu psicólogo e a partir de um
dado momento, eu comecei a não saber o que falar ou deixar de falar, com medo
do que ele poderia pensar e com medo de que ele insistisse que eu fizesse um
tratamento envolvendo psiquiatria. Eu não queria, de jeito nenhum. Atualmente
faço, mas naquele momento, era completamente contra e passei a me afastar do
tratamento por conta disso. Passei a não confiar mais que meu psicólogo
estivesse sabendo lidar comigo e me ajudando e após meses e meses, em dezembro,
é que decidi mudar de psicólogo – algo que eu precisava muito, para
ressignificar a terapia e compreender, bem mais tarde, que talvez, tenha sido
somente paranoia minha.
Definitivamente, como eu disse,
foi denso. Repeti diversas vezes, ao
fim dele: “Haverá sempre um pôr do sol e então um novo dia”. O descanso sempre
chega, o momento de baixar a energia, acalmar e se preparar para um novo dia.
Isso foi 2017. Foi um novo dia, um dia atarefado. Um dia que chegou ao fim. Um
dia que se pôs e então, mais tarde, trouxe um novo dia: 2018.
Termino aqui meu texto, mais de
16.000 caracteres depois, e lhes digo: O caminho pode ser muito longo e às
vezes me sinto perdida, mas sigo.
Por: Stephanie Santana.
Por: Stephanie Santana.
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