sábado, 25 de agosto de 2018

Haverá sempre um novo dia - Devaneios atrasados de um 2017


Desta vez, não foi fácil. Oito meses se passaram, não é mesmo? Oito meses. Oito.

Porque tanta ênfase? Bem, é algo impressionante para mim. Quando pensei sobre isso hoje, me dei conta que, num geral, oito meses é muita coisa. A minha sensação é de que o ano novo foi ontem, se eu for pensar nele somente.

Notei há algum tempo que minha noção de tempo anda muito ruim. Meus dias parecem não ter fim e ao mesmo tempo, sinto como se não tivesse tempo para nada. Se eu deito por dois minutos, horas se passam e eu sequer sei do que estava pensando.

Desculpem a mudança de assunto, mas deve ser bem perceptível que esse texto não tem e muito provavelmente não se seguirá de uma forma poética como os outros. Gosto muito de escrever de uma forma ritmada e que eu sinta que é gostoso de ler, mas hoje não. Hoje estou meio como a Imp, de “A Menina Submersa” – Se normalmente eu não me importo muito sobre como os leitores irão receber o que escrevo e se vão entender, neste momento, eu absolutamente não me importo. Hoje, neste texto, abro todo o meu coração, sem medo.

Retornando ao assunto, muito me impressiona, de verdade, que se tenham oito meses e eu não tenha parado em momento algum para escrever esse texto. Nos textos anteriores eu acredito que comentei sobre ter se tornado uma tradição pessoal (não fui nem vou verificar...) e por todas as vezes que pensei em fazê-lo ao longo desses oito meses, ou eu me sentia sem tempo ou bloqueada para escrever.
Talvez pareça simples a atividade de escrever. Sempre me sinto impressionada com meus colegas e/ou amigos escritores que fazem atividades de escrita constantemente e quando se sentem mal, às vezes imensamente mal, é na escrita que encontram um conforto. Comigo quase nunca é assim. Preciso estar minimamente bem para escrever, porque se estiver muito mal, me sentirei bloqueada e absolutamente não conseguirei escrever, por mais que tente.

Bloqueada. Percebe que falei disso em dois assuntos diferentes que se relacionam? Pois é. Eu estive muito mal.

Talvez, falar de 2017 envolva falar de 2018. Talvez as coisas fiquem confusas. Talvez as memórias se misturem. Talvez eu desista desse texto antes mesmo de chegar ao propósito: Falar de 2017. Muitos “talvez”, talvez você fique cansada (o) de ler esse texto e vá embora também, mas tudo bem, aqui é um desabafo e, desculpa a sinceridade, mas não me importa quantos quererão ler. Talvez (sim, mais um), me importarei com alguém que leia esse  texto e se lerá tudo, mas não me importo num geral.
Cheguemos ao ponto. Dois mil e dezessete foi um ano extremamente diferenciado na minha vida. Foi o ano que decidi por um fim e por um novo começo cheio de provações, em nome dos meus sonhos. Inclusive, há alguns dias, me surpreendi por uma frase: “Não desista, afinal, é o seu sonho, não é mesmo?”. Pus um fim na minha ideia de seguir alguns conselhos e desistir de Engenharia Química por enquanto.

Disseram-me, lá em 2016, algo como: “Eu sei, é sua paixão, é o que você sente que ama, mas não pensa que seria bom se afastar um pouco, se cuidar, descobri outras coisas, fazer outro curso e só daqui a um tempo, quando você estiver melhor, você retorna e faz o que você ama”. Há bastante sensatez nessas palavras e, lá em 2016, quando tranquei meu semestre para cuidar dos meus transtornos psíquicos, a minha ideia era justamente procurar segui-lo - e procurei. Voltei à mente de criança, voltei aos meus desejos e pensei: “O que eu quero ser? O que quero fazer? Qual o meu propósito?”. Tive novamente os mesmos desejos: Posso tentar ser física, astrofísica, bióloga, filosofa, matemática... Procurei por todos esses cursos. Na verdade, procurei por ainda mais. Tantas pessoas falam da minha escrita, sobre como eu devia seguir uma carreira relacionada e pensei: “E se eu fizer literatura, letras, jornalismo ou algo similar?” – Desculpe-me, mundo, mas não, essa não é minha ossada. Tenho preguiça só de pensar. “Meu deus! Uma escritora que não estuda!!!!” – Não é bem assim, estudo só o que acaba me gerando interesse para algo que eu queira escrever e também aceito a ajuda e ensinamentos de leitores beta e dos meus colegas de escrita/editores/organizadores dos livros que participei, mas para todo o resto, eu simplesmente não me importo e me cansa – sequer me vejo nas carreiras que estes cursos proporcionam.

Consegue tirar algo da volta que dei no último parágrafo? Eu consigo: Por mais que as pessoas me vejam nas artes diversas, eu não me vejo inserida nelas como deveria e sequer tenho vontade. Às vezes penso em me esforçar para essas atividades pelos elogios que recebo das pessoas, mas quando tudo anda mal, essas coisas até me servem de passatempo ou desabafo, mas não as sinto como minha vida. Elas não fazem meus olhos brilharem e meu coração explodir de encantos como entrar no barco do Greenpeace, ler sobre a história e o trabalho de Vera Rubin (Astrofísica), estudar a capacidade de degradação de alguns microrganismos, compreender as viagens quânticas de algumas ideias de Einstein, transformar matéria, melhorar o mundo através de projetos... Pesquisa, criação, desenvolvimento. Caramba! Essas três palavras fazem de mim quem eu sou. Dentro e fora da faculdade, ou seja, literal e metaforicamente.

Talvez por isso, seja tão importante e sofrida a faculdade para mim. Não deveria ser assim e eu absolutamente não serei estoica quanto a isso, muito menos me formarei expondo minha história como se fosse normal passar por tanta coisa e eu estivesse completamente certa em meu caminho.

Vou contar uma verdade: Não sei nem o que estou fazendo. Uma outra pessoa quase me bateu quando se deu conta disso (ou pareceu que a vontade dela era me dar um tapa na cara). Eu estou, de alguma forma, seguindo meu coração. Ao mesmo tempo, estou “dando murro em ponta de faca”, como já me disseram. Não façam isso em casa, crianças. É um caminho doloroso demais e talvez, há quatro anos, eu devesse ter tomado outro rumo. Invés disso, cá estou, cheia de pesos nas costas, em pleno 2018, remexendo em 2016 para explicar 2017, que é o protagonista desse texto, mas ainda nem chegou na história de fato.

“Pombas, Stephanie! Começar a falar de 2017, onde fica?” – Por favor, não se estressem, estamos trabalhando para oferecer um melhor serviço. Ou não, afinal, sequer vou revisar esse texto. Se eu revisar, certamente desistirei dele, ou cortarei muita coisa. Lembram que me referi à Imp? Pois, quem leu, vai entender bem que isto aqui é um texto com o mesmo tipo de escrita: incômodo, informal, confuso, cheio de rodeios e voltado à mim, a escritora.

Agora, após três parágrafos de adendos, volto ao ponto: o fim que pus em 2017. Como eu disse há quatro parágrafos atrás, sou feita de pesquisa, criação e desenvolvimento. Com tudo que disse nos últimos parágrafos, quis dizer que sou muito eclética, mas existem ramos que se unem e são muito importantes para mim. Todos aqueles cursos que realmente pensei em fazer, em absolutamente todos, senti que não iria me satisfazer. Não consigo me ver sem fazer mil contas e interpretar dados, não me vejo estudando os milhares de ramos da física (prefiro mesmo a aplicação prática nos fenômenos que estudo e a existência ínfima de algumas coisas que odeio neste ramo), não me vejo só fazendo contas e algebrismos, não me vejo apenas discutindo ideias e repassando em sala de aula sobre os pensadores do passado. Claro, estou sendo bem superficial nessas definições e acreditem: Eu SEI muito bem que não é só isso e já pesquisei a fundo e busquei profissionais para saber dessas áreas. Após trancar o meu curso, passei meus dias inerte e triste. Me senti vazia e sem propósito. A ideia de fazer esses cursos não me motivava, o pole dance e o tecido acrobático não me acalmavam, a escrita não me ajudava, NADA. Pus um fim. Descobri que na minha atual faculdade tinha meu curso e as matérias que faziam parte pareciam muito que me levariam aonde eu queria. Pus um fim na ideia de seguir o conselho de mudar. Segui meu coração.

Mas, sabe? Seguir seu próprio coração dói. Alguns te chamam de louca, outros reafirmam que acham que você está se enganando sobre o caminho que deve seguir, outros não te acham capaz de almejar o que deseja. “Fodam-se os outros!” Fácil dizer, difícil mesmo é escutar essas opiniões de quem mais te importa e isso sempre ser reafirmado. Para mim, é difícil  e doloroso, por mais que eu saiba que a intenção de alguns é me proteger e me guiar para um caminho melhor. Para estes, estou sendo teimosa e alguns, inclusive, se preocupam com minha saúde mental.

Decidi seguir meu coração e enfrentar isso. Foi MUITO difícil.

Novo espaço de estudo, novas pessoas, maturidades muito diferentes da minha, sensação de escola, rotina densa, necessidade de paciência. E os distúrbios, acabaram? Não. Me abri para o mundo quanto aos meus transtornos. Foi difícil e inicialmente, rodeado de desculpas e desculpas – parei com isso após um professor me chamar para uma conversa e me confrontar sobre isso: “Você não precisa viver de desculpas. Você não precisa se explicar para todo mundo. Tome cuidado para não se fazer de vítima”. Esse é um resumo de toda uma grande conversa ao fim do ano, em que eu chorei para caramba. Não era a primeira vez que eu escutava algo do tipo, não foi a última e talvez seja a mais tocante e significante, por conta da forma que ele me passou isso (que, por sinal, é inenarrável, me desculpem).

Tive que me adaptar a me sentir em meio a crianças em alguns momentos e uma criança burra em meio a gigantes do conhecimento em outros. Desenvolvi fobia social ao longo da minha trajetória e isso veio com força a partir de 2016. Nunca fui de ligar para as opiniões alheias e em 2017 é que comecei a perceber que minha autoestima estava destroçada e que comecei a ter uma facilidade imensa em me retrair e me sentir inferior nas coisas que amo. O porquê disso? Assunto para uma outra hora, ou talvez hora nenhuma, mas não sinto que seja tópico para esse texto aqui.
Dois mil e dezessete foi difícil, mas certamente um ano em que suspirei de alívio diversas vezes. Dois mil e dezesseis foi muito pior. MUITO pior. Se em 2017 eu chorei diversas vezes e tive que colocar minha ansiedade e a depressão no colo e acalentá-los, transformá-los, ao menos não havia mais os meus terríveis ataques de pânico e já não chorava todos os dias na ida à faculdade. O que era diário, aos poucos se tornou só algo possível e um pouco frequente.

Em 2017 ganhei alguns presentes da vida. Se 2016 me presenteou com momentos completamente paradoxais (mortes, introspecção, isolamento, decepção amorosa, um novo e maravilhoso amor, fortalecimento de amizades que muito amo, reencontros, desistência, resiliência...), em 2017 me surpreendi com o alento vindo de onde eu menos esperava. Em 2017 pessoas incríveis colocaram suas marcas em minha vida – e algumas delas estiveram ou estão só de passagem, mas suas marcas são fortes.

Uma pausa no meu texto para algo que acabei de notar: Alguém a quem dei e dou muita importância, é passageiro na minha vida. Passei 2017 inteiro negando isso a mim mesma. Passei todo um ano achando que era apenas impressão, achando que daria certo tê-la por perto. Me enganei. Ela não pode estar como eu gostaria e nem é obrigação dela. Cada dia que passa, me sinto mais certa disso e me dói.

Ainda sobre pessoas, os presentes desse ano que já passou ainda estão sendo abertos, aqui em 2018. Ainda estou descobrindo o que foi 2017 para mim e não posso deixar nenhum desses parágrafos para lá, pois são, para mim, muito importantes.

Muitas pessoas foram incríveis para mim em 2017 e ficou nítido o quanto eu não preciso de ninguém, mas preciso de todo mundo. Com o estopim dos meus transtornos ocorrido em 2016, em 2017 aprendi um pouco mais sobre cuidar de mim mesma, sobre não me achar uma super-heroína capaz de aguentar tudo só, sobre deixar meu orgulho e pedir ajuda, sobre permitir que as pessoas entrem, às suas formas, na minha vida (mas cuidando de como elas fazem isso).

Esse foi um ano muito denso. Nesse ano também lancei meu primeiro livro: “Fragmentos de Vida – Contos Diversos”, que peguei doze contos que criei, repaginei alguns mais velhos, e fiz a minha própria coletânea. Cheia de histórias fictícias e um ou outro fragmento de realidade, pus nele bastante do que penso e aprendi da vida. Realizei tudo isso, todo esse projeto. Graças à minha família de escrita (Zinescritos) e principalmente à Sandro G. Moura, meu grandiosíssimo amigo e entusiasta. Sem ele, certamente não teria saído. Também no ramo da escrita, ao ajudar a editora em qual publiquei, fui convidada a participar de um livro, para o qual eu fiz um conto bem despretensioso, mas que agora em 2018, foi indicado como um dos cinco melhores do livro. Além desse conto, senti que cresci um pouco nas poesias, graças a um amigo e mestre Marcelo Aceti. Através de seu incentivo, peguei a ideia de um poema e transformei em outros dois poemas que acho incríveis. Também no mesmo assunto, ainda publiquei em um livro que é a continuação de um projeto que achei excelente e nele há diversos autores que admiro muito. 2017 foi um ano produtivo na minha vida de escritora, mas fiz tudo isso graças aos diversos empurrõezinhos que pessoas muito especiais me deram. Infelizmente, a partir do momento em que precisei tocar isso sozinha, deixei para lá. O final de 2017 foi muito difícil nesse quesito. Meu bloqueio criativo foi forte e me derrubou. Minha autoestima como escritora sofreu um grande baque e até hoje, em pleno 2018, oito meses de 2018, quase nove, ainda estou tentando, a passos de tartaruga, mudar isso.

Acredito que quanto à escrita e à faculdade, eu consegui pôr tudo para fora. É bom dizer que nas questões familiares, foi um ano que me decepcionei fortemente com pessoas que amo, por começar a duvidar do caráter delas e amei fortemente e ainda mais algumas outras porque sei de suas importâncias para mim e o quanto me querem bem – me esforcei, portanto, para me reaproximar da minha família mais próxima e até de alguns mais distantes. Ás vezes, eu até quero me aproximar de algumas pessoas, mas, sinceramente, não sei como.

Quanto a amizades, os meus permaneceram. Meu coração chega a doer de felicidade ao olhar fotos e recordações envolvendo as minhas antigas e novas amizades. Em 2017, inclusive, me aproximei muito das amizades que fiz nas aulas de danças aéreas e passei a admirar mais e mais a minha polemãe, Erika Thompson – Aliás, a cada dia que passa, acho essa mulher mais incrível e uma forte inspiração. Foi graças a essas amizades e à inspiração e ensinamentos de Erika, num tempo que passei a praticamente morar no Studio, como diziam as pessoas, que cresci muito enquanto pole dancer e criei confiança para deixar minha criatividade fluir também nessa atividade.

Caramba! Já foram cinco páginas de Word... E ainda tem coisa.

Eu falei dos meus transtornos mas não falei sobre algo importante: eu já fazia e ainda faço psicoterapia. É imensamente importante nesse processo. 2017 também foi um ano de aprendizado nesse quesito. Me tornei praticamente amiga do meu psicólogo e a partir de um dado momento, eu comecei a não saber o que falar ou deixar de falar, com medo do que ele poderia pensar e com medo de que ele insistisse que eu fizesse um tratamento envolvendo psiquiatria. Eu não queria, de jeito nenhum. Atualmente faço, mas naquele momento, era completamente contra e passei a me afastar do tratamento por conta disso. Passei a não confiar mais que meu psicólogo estivesse sabendo lidar comigo e me ajudando e após meses e meses, em dezembro, é que decidi mudar de psicólogo – algo que eu precisava muito, para ressignificar a terapia e compreender, bem mais tarde, que talvez, tenha sido somente paranoia minha.

Definitivamente, como eu disse, foi denso. Repeti diversas vezes, ao fim dele: “Haverá sempre um pôr do sol e então um novo dia”. O descanso sempre chega, o momento de baixar a energia, acalmar e se preparar para um novo dia. Isso foi 2017. Foi um novo dia, um dia atarefado. Um dia que chegou ao fim. Um dia que se pôs e então, mais tarde, trouxe um novo dia: 2018.

Termino aqui meu texto, mais de 16.000 caracteres depois, e lhes digo: O caminho pode ser muito longo e às vezes me sinto perdida, mas sigo.

Por: Stephanie Santana.